Pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, anunciaram a criação de um reator inovador capaz de capturar dióxido de carbono (CO2) diretamente do ar e transformá-lo em combustível. O processo ocorre em duas etapas: à noite, o CO2 é capturado; durante o dia, com auxílio da luz solar, ele é convertido em gás de síntese (syngas), que pode ser usado como combustível ou matéria-prima industrial. Os resultados do estudo foram publicados na revista Nature Energy.
O reator funciona exclusivamente com energia solar e conta com filtros especiais que absorvem o CO2 do ar como se fossem esponjas. Quando o sol nasce, a luz solar aquece esse CO2, ativando um processo químico. A radiação infravermelha aquece o gás enquanto um pó semicondutor captura a radiação ultravioleta, desencadeando a reação que o transforma em syngas. Um espelho acoplado ao dispositivo intensifica a luz solar, otimizando o processo.
Diferente de outras tecnologias de captura de carbono, o equipamento desenvolvido pelos britânicos não depende de combustíveis fósseis, baterias ou sistemas de armazenamento. Seu funcionamento 100% solar representa um avanço importante na busca por soluções sustentáveis de produção energética.
Segundo o pesquisador Sayan Kar, principal autor do estudo e integrante do Departamento de Química de Cambridge, a proposta vai além da captura de carbono: ela busca uma economia circular do CO2.
“Queremos capturar o CO2 e, com a luz do sol, transformá-lo em combustível. Depois de usado, ele volta à atmosfera, reiniciando o ciclo”, explicou Sayan.
Kar e seus colegas enfrentam dois grandes obstáculos para levar a tecnologia ao mercado. O primeiro é o custo de produção, ainda mais alto do que os métodos convencionais. “Estamos estudando formas de baratear a produção do metanol”, afirmou o pesquisador. O segundo desafio é ampliar a escala de produção para atender à demanda comercial.
De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), tecnologias de captura, uso e armazenamento de carbono serão responsáveis por cerca de 15% do esforço necessário para que o setor energético atinja emissões líquidas zero até 2070. O restante depende de outras soluções já em curso, como eletrificação, uso de hidrogênio, biocombustíveis e aumento da eficiência energética.
O reator desenvolvido em Cambridge também pode abrir caminhos para novos mercados. Um deles é a indústria farmacêutica, que utiliza metanol como reagente químico na produção de moléculas em pequena escala. “A margem de lucro nesse setor é um pouco maior, o que pode viabilizar comercialmente a tecnologia antes da aplicação em larga escala nos transportes”, concluiu Kar.
Cientistas criam reator capaz de transformar CO2 em combustível. 16 de maio, 2025. Carin Petti.