Cientistas descobriram uma formiga que viveu a 113 milhões de anos atrás na região nordeste do Brasil. Trata-se do fóssil de formiga mais antigo já descoberto pela ciência, segundo um estudo publicado este mês na revista Current Biology.
O que torna essa descoberta ainda mais interessante é o fato de que esse fóssil pertence à família das chamadas “formigas do inferno”, conhecidas por possuírem adaptações predatórias bizarras.
Preservada em calcário, a formiga pertence à subfamília extinta Haidomyrmecinae, que viveu apenas durante o período Cretáceo. Essas formigas tinham mandíbulas articuladas verticalmente ao invés de horizontalmente, e atuavam de maneira similar a uma foice.
A equipe encontrou o fóssil enquanto examinava uma das maiores coleções de fósseis do mundo, proveniente da Formação Crato - famosa pela excepcional conservação de fósseis - que está armazenada no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP).
Quando os cientistas se depararam com esse exemplar extraordinário, perceberam imediatamente sua importância, não apenas como uma nova espécie, mas também como uma evidência definitiva da presença de formigas na Formação Crato, que está localizada na Chapada do Araripe, na divida dos estados do Ceará, Pernambuco e Piauí.
Utilizando microtomografia computadorizada (técnica de imagem 3D baseada em raios-X), os pesquisadores revelaram que a formiga recém-descoberta está muito próxima de outras “formiga do inferno”, e sua existência no Brasil mostra que as formigas já estavam amplamente distribuídas logo no início de sua história evolutiva. Essas formigas ancestrais provavelmente cruzaram as massas de terra do período Cretáceo diversas vezes.
Ainda assim, o que mais surpreendeu os cientistas foram as características fisiológicas desse fóssil. Diferente das formigas modernas, que possuem mandíbulas que se movem lateralmente, na horizontal, essa espécie possuía mandíbulas alinhadas de maneira vertical à frente da cabeça, com uma projeção facial localizada à frente dos olhos. Acredita-se que as formigas usavam essas presas tanto para prender quanto para perfurar suas presas.
A descoberta de uma formiga tão anatomicamente especializada, com 113 milhões de anos de idade, desafia ainda as suposições da ciência sobre a velocidade com que esses insetos desenvolveram adaptações complexas. Isso sugere que, já no início da sua evolução, as formigas evoluíram estratégias predatórias sofisticadas e bem diferentes das suas descendentes modernas.
Ainda existem muitos fósseis que não foram analisados cuidadosamente, seja em coleções privadas ou em museus. Isso o quanto a fauna fóssil de insetos no Brasil ainda carece de exploração detalhada, e reforça a importância do trabalho contínuo da paleontologia brasileira.
A hell ant from the Lower Cretaceous of Brazil. Current Biology, 2025. Anderson Lepeco, Odair M. Meira, Diego M. Matielo, Carlos R.F. Brandão, Gabriela P. Camacho.