Cerca de 2 bilhões de pessoas vivem em países em desenvolvimento na faixa tropical do planeta terra, onde o principal fator econômico destes países é a agricultura e boa parte da energia elétrica é gerada em hidrelétricas. O entendimento das variabilidades no regime de precipitação é de suma importância para o crescimento destes países.
A circulação de monção é um dos principais sistemas atmosféricos de grande escala da região tropical. Estes sistemas são definidos pela notável reversão na direção dos ventos de baixos níveis durante a transição entre a estação de inverno e verão. Esta reversão na direção dos ventos gera uma mudança no padrão de precipitação sazonal. De acordo com Ramage (1971), para classificar uma circulação atmosférica como uma monção é necessário seguir os seguintes critérios:
Por não haver a reversão completa dos ventos em baixos níveis, Ramage (1971) não considerou a circulação da América do Sul como uma monção. O autor apontou que a causa da América do Sul não possuir um sistema de monção se deve ao fato de que:
A interpretação de Ramage (1971) começou a mudar no final dos anos 90. Zhou e Lau (1998) concluíram que o sistema de monção realmente ocorre na América do Sul. Eles analisaram a evolução sazonal de muitas características da circulação atmosférica e notaram que o desenvolvimento da monção na América do Sul se inicia durante a primavera (setembro-novembro).
A convecção profunda se desenvolve primeiro sobre o noroeste da bacia amazônica em meados de setembro e, em seguida, progride para o sudeste do Brasil. A intensidade máxima de chuva ocorre nos meses de verão. A fase de decaimento da monção começa no final do verão, quando a convecção profunda muda gradualmente para o Equador. Segundo Gan et al. (2004), a reversão dos ventos que é característica de regime de monção, só ocorre no vento zonal em toda a troposfera quando inicia a estação chuvosa e a seca.
Apesar das características do sistema de monção estarem presentes na América do Sul, mudanças nos padrões atmosféricos podem ocorrer entre um ano e outro. Geralmente muitos destes eventos estão relacionados às interações entre oceano-atmosfera, principalmente sobre a região do oceano Pacífico Tropical, resultando no aparecimento natural do El Niño-Oscilação Sul (ENOS). Essas forçantes de grande escala podem afetar a circulação sobre a região tropical da América do Sul e assim, contribuir para que a estação chuvosa inicie ou termine mais cedo ou sofra um retardo, além de favorecer para que a estação chuvosa tenha precipitação acima ou abaixo do normal (Gan et al., 2016).