Imagens inéditas revelam traços de civilizações antigas em geoglifos na Amazônia

Descobertas feitas em Boca do Acre indicam que sociedades avançadas habitaram a região há milhares de anos. Pesquisadores utilizam tecnologia de ponta e projetam ações de preservação e educação.

Imagem inédita de avistamento aéreo de geoglifos na Amazônia. Crédito: Valter Calheiros
Imagem inédita de avistamento aéreo de geoglifos na Amazônia. Crédito: Valter Calheiros

Imagens inéditas de geoglifos encontrados no município de Boca do Acre, no sul do Amazonas, foram reveladas pelo Instituto Geoglifos da Amazônia. As estruturas geométricas escavadas no solo, que incluem círculos, quadrados e retângulos, foram registradas entre os dias 4 e 10 de maio com o auxílio de tecnologia de ponta e um time de pesquisadores e fotógrafos.

As descobertas reforçam a existência de civilizações antigas na região amazônica que dominaram técnicas geométricas avançadas. As estruturas podem ter até três mil anos e fazem parte de um grande projeto de pesquisa chamado “Desvelando o ado profundo”, liderado pelo Instituto.

Foram identificados, até agora, 124 pontos no estado com indícios de geoglifos. O presidente do Instituto, Alceu Ranzi, explicou que os vestígios datam de um período entre mil anos antes de Cristo e mil anos depois de Cristo, revelando uma longa ocupação na margem direita do Rio Purus e margem esquerda do Rio Madeira.

Tecnologia revela o invisível sob a floresta

Geoglifo localizado, através do LIDAR, no município de Boca do Acre, no Amazonas. A estrutura tem cerca de mil metros de extensão. Foto: Fábio de Novaes Filho
Geoglifo localizado, através do LIDAR, no município de Boca do Acre, no Amazonas. A estrutura tem cerca de mil metros de extensão. Crédito: Fábio de Novaes Filho

A descoberta só foi possível graças ao uso da tecnologia LIDAR (Light Detection and Ranging), que permite mapear o terreno mesmo sob a densa cobertura da floresta. Essa técnica cria imagens detalhadas do relevo e revelou com precisão os contornos das estruturas enterradas sob a vegetação.

O principal geoglifo encontrado possui cerca de mil metros de extensão. Segundo o diretor executivo do Instituto, Hudson Ferreira, as escavações no solo chegam a até seis metros de profundidade e representam desenhos monumentais feitos por civilizações altamente organizadas.

As imagens foram registradas durante um sobrevoo que partiu de Porto Velho, com a participação de pesquisadores e fotógrafos como Valter Calheiros (AM), Maurício de Paiva (SP) e Diego Gurgel (AC). O voo foi realizado no início da manhã, para aproveitar o jogo de luz e sombra que realça os relevos no solo.

Patrimônio cultural e legado científico

Os pesquisadores ressaltam que os geoglifos não apenas surpreendem pelo aspecto visual, mas também pelo valor científico, histórico e educativo. Hudson Ferreira destacou que estudar essas estruturas é essencial para compreender as origens das civilizações amazônicas e suas relações sustentáveis com o meio ambiente.

Há ainda hipóteses sobre paralelos históricos com outras culturas da América, como os Maias. Alceu Ranzi comentou que os geoglifos da Amazônia desapareceram em períodos similares aos das civilizações da região do Yucatán, no México.

A próxima etapa do projeto envolve ações de educação patrimonial e escavações arqueológicas. Escolas de Boca do Acre e municípios vizinhos serão integradas ao processo educativo, com o objetivo de aproximar alunos e professores do conhecimento ancestral amazônico.

Reconhecimento e preservação do patrimônio

O Instituto Geoglifos da Amazônia planeja pleitear o reconhecimento dos sítios arqueológicos como Patrimônio Cultural protegido por lei. A proposta é impedir destruições causadas pelo desmatamento e incentivar a preservação.

Além disso, os pesquisadores sonham em ver os geoglifos incluídos nos materiais didáticos das escolas brasileiras, ao lado de civilizações antigas mundialmente conhecidas. “Não podemos falar apenas das pirâmides do Egito, temos também nossas relíquias aqui na Amazônia”, afirmou Ranzi.

A superintendente do Iphan no Amazonas, Beatriz Calheiro, reforçou a importância de envolver a sociedade no debate sobre o valor histórico e cultural desses sítios. “Precisamos promover a convivência entre o desenvolvimento e a preservação da memória das civilizações que viveram aqui”, concluiu.

Referências da notícia

Portal da Amazônia. Imagens inéditas revelam marcas de civilizações antigas em geoglifos no Amazonas. 2025