A geleira Thwaites, no oeste da Antártica, faz parte do manto de gelo da Antártica Ocidental (West Antarctic Ice Sheet - WAIS), sendo a mais larga da Terra, com 120 quilômetros.
Há anos ela vem apresentando um rápido derretimento; e agora um novo estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) traz uma nova informação sobre isso: sugere que o seu recuo iniciou na década de 1940 devido a um forte evento de El Niño.
Os pesquisadores não tinham certeza de quando esse recuo começou, já que a cobertura de dados na Antártica através de satélites remonta apenas a 1978. Então, nesse estudo, eles fizeram análises de núcleos de gelo coletados ao redor da geleira, que datam de mais de 10.000 anos, e sugeriram que o degelo teve início na década de 1940 com um forte evento de El Niño. E além da Thwaites, o evento também afetou a sua vizinha, a geleira Pine Island.
O episódio de El Niño em questão foi incomumente quente, entre 1939 e 1942, com anomalias de temperatura da superfície do mar superiores a 1,5°C. O curto período do evento alarmou os pesquisadores, ao mostrar que mesmo que o gatilho para o derretimento cessou, a resposta das geleiras pode continuar por décadas.
“O que é especialmente importante no nosso estudo é que esta mudança não é aleatória nem específica de uma geleira. Faz parte de um contexto mais amplo de mudanças climáticas. Não podemos simplesmente ignorar o que está acontecendo nesta geleira”, disse Rachel Clark, geóloga da Universidade de Houston e autora principal do trabalho.
A geóloga e coautora Julia Wellner, também da Universidade de Houston, complementa: “É significativo que o El Niño tenha durado apenas alguns anos, mas as duas geleiras, Thwaites e Pine Island, continuam em recuo significativo. E uma vez que o sistema é desequilibrado, o recuo continua".
E ainda segundo Wellner, a geleira Thwaites é importante não só pela sua contribuição com o aumento do nível do mar, mas também porque funciona como uma “rolha na garrafa”, retendo uma área mais ampla de gelo atrás de si.
Nomeada em homenagem ao geólogo Fredrik T. Thwaites, a geleira Thwaites está diminuindo e perdendo massa de gelo de forma mais rápida desde a década de 1980. Esse recuo glacial é um problema mundial, afetando comunidades desde a Escandinávia até aos Himalaias, já que a geleira contribuiu com o aumento do nível do mar à medida que derrete.
Thwaites é a geleira mais larga da Terra, com aproximadamente 120 km de largura. Sua bacia mede 192.000 km², sendo maior que o estado americano da Flórida (172 mil Km²). A geleira está entre 800 e 1.200 metros de profundidade.
Segundo especialistas, a geleira contribui atualmente com cerca de 4% do aumento do nível do mar global, com a perda de cerca de 595 bilhões de toneladas de gelo, e tem potencial para contribuir significativamente mais. Se ela derretesse totalmente, aumentaria o nível do mar em mais de 60 centímetros.
Referência da notícia:
Clark, R. W. et al. Synchronous retreat of Thwaites and Pine Island glaciers in response to external forcings in the presatellite era. Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), v. 121, n. 11, 2024.