Após três anos de um persistente padrão de La Niña - fase negativa do El Niño-Oscilação Sul (ENOS) - finalmente os modelos climáticos apontam o fim de seu duradouro ciclo e sinalizam uma possível virada para a fase positiva do ENOS, o El Niño, no segundo semestre de 2023, algo que não ocorria desde 2019!
Forecast update #LaNina is still in place; transition to ENSO-neutral anticipated by springtime.
— National Weather Service (@NWS) January 12, 2023
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As últimas atualizações das previsões do ENOS indicam que a La Niña provavelmente terminará entre os meses de fevereiro e abril de 2023, ando para uma fase neutra - ou seja, de condições oceânicas e atmosféricas próximas ao normal - do ENOS no meio deste ano. Porém, muitos modelos climáticos apontam para um aquecimento das águas superficiais do Pacifico Tropical a partir do mês de julho. Muitos apontam que esse aquecimento poderá superar o limiar de +0.5°C entre os meses de julho e setembro, o que indicaria o início do El Niño.
Pelas previsões do Climate Prediction Center (C) da NOAA, a probabilidade de El Niño é ligeiramente superior a 50% para o trimestre de agosto, setembro e outubro, enquanto a probabilidade de neutralidade é de 38% e de La Niña de 11%. Porém, ainda é preciso ter cautela com essas previsões, afinal estamos mirando num horizonte de muitos meses à frente, e essas previsões carregam muitas incertezas. Dessa forma, o cenário poderá mudar nos próximos meses.
The January C3S update suggests that La Niña will weaken rather quickly over the coming months
— Ben Noll (@BenNollWeather) January 16, 2023
It even suggests that an El Niño-like signature () could be building by mid-2023!
on El Niño potential this year... pic.twitter.com/6UAlz1BKAU
Como sabemos tanto o El Niño quanto a La Niña provocam alterações no clima de todo o planeta, com cada região sendo afetada de uma forma. Durante o El Niño, geralmente são registradas ondas de calor em partes da Ásia e América do Sul; chuvas volumosas e inundações no Sul do Brasil e em partes da Califórnia; condições mais secas que o normal sobre a Amazônia, Austrália e sul da África; entre outros efeitos. Além desses impactos regionais, o ENOS provoca alterações na temperatura média da Terra!
A Terra já está cerca de 1.1°C mais quente que o período pré-industrial, devido ao agravamento do efeito estufa causado pelas emissões de gases estufa gerados pela atividade humana. Os últimos 8 anos foram os mais quentes dos registros históricos!
O ENOS é um padrão climático de variabilidade natural que também contribui com as variações da temperatura global. No ano de 2016 um forte El Niño ajudou a elevar as temperaturas globais a um recorde, sendo o ano mais quente já registrado! Porém, em 2020 as temperaturas globais chegaram ao patamar registrado em 2016, mesmo com a atuação da La Niña, que geralmente tende a resfriar a temperatura média global.
Alguns especialistas acreditam que o retorno do El Niño neste ano, num planeta já superaquecido, poderá colocar a temperatura do planeta em um nível de aquecimento recorde, próxima ou até mesmo acima do limiar de +1.5°C de aquecimento, limiar tão falado nos relatórios do IPCC e nas discussões climáticas, como as COPs, devido ao seu potencial de causar danos irreversíveis em nosso planeta.
"ENSO not only affects global weather patterns, but it also affects global temperatures [...] during El Niño, global temperatures tend to be warmer than ENSO-neutral or La Niña years, while global temperatures tend to be slightly cooler during cold phase ENSO episodes (La Niña)" pic.twitter.com/grsp8bHBb2
— Giulio Betti (@Giulio_Firenze) January 20, 2023
Projeções indicam que 2023 e 2024 poderão estabelecer novos recordes globais de calor, isso porque se o El Niño se formar em 2023, provavelmente seu pico de intensidade máxima ocorrerá entre o final de 2023 e início de 2024, causando impactos significativos no clima em 2024.
Algumas agências projetam que ainda não atingiremos o limiar de 1.5°C neste ano, mas vamos chegar perto. A Met Office prevê que o ano de 2023 será um dos mais quentes já registrados, com um aquecimento entre 1,08°C e 1,32°C acima do nível pré-industrial.
Sabemos que o ENOS é o maior padrão de variabilidade climática natural da Terra, mas como ele tem o poder de alterar a temperatura média do nosso planeta? A resposta está na constante troca de calor que ocorre entre o oceano e a atmosfera!
Durante o El Niño, as águas superficiais do Pacífico Tropical ficam mais quentes que o normal e, como uma forma de se “livrar” desse calor excedente, o oceano libera uma grande quantidade de calor para a atmosfera, o que contribui para aquecer sua temperatura. Já durante a La Niña, o Pacífico Tropical está mais frio que o normal, então, para compensar essa falta de calor, o oceano “retira” calor da atmosfera.