Aqueles rastros brancos que vimos no céu quando um avião a são bonitos, não é mesmo? Pois é… mas eles também são um dos fatores de maior impacto no aquecimento global por parte do transporte aéreo.
Em um relatório do Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o órgão destacou que as nuvens criadas por esses rastros representam cerca de 35% do impacto do aquecimento global causado pela aviação. Sabendo disso, empresas mundiais uniram esforços para encontrar uma forma de mitigar esse impacto, utilizando Inteligência Artificial (IA), e afirmam estarem próximas de conseguir realizar isso.
Esses rastros deixados pelas aeronaves são chamados de trilhas de condensação, ou “contrails” em inglês. Nada mais é do que uma nuvem formada pela condensação dos gases que saem dos motores das aeronaves em grandes altitudes (acima de 8.000 metros). Quando esses gases entram em contato com o ar extremamente frio do ambiente circundante (abaixo de cerca de -40 °C), o vapor d’água no ar se resfria rapidamente e se condensa, formando pequenas gotas de água.
O resultado disso é uma fina nuvem, que pode ser longa e duradoura ou curta e rápida, dependendo da umidade e da temperatura da atmosfera. Quanto mais frio e úmido for o ambiente, maior e mais duradouro será o rastro. Mas se o ar à sua volta for seco, os rastros podem durar apenas alguns minutos.
E embora sejam constituídos majoritariamente por cristais de gelo, os rastros também podem conter outros componentes provenientes da exaustão das aeronaves, como fuligem e dióxido de enxofre.
Vários estudos afirmam que os rastros de nuvens contribuem com o aquecimento do planeta ao capturarem calor, somando-se a outro importante impacto da aviação: o dióxido de carbono (CO2) lançado em grandes quantidades pelo escapamento dos aviões, que representa aproximadamente 2,5% das emissões globais de gás carbônico.
Em 2019, um estudo publicado na revista Atmospheric Chemistry and Physics, e desenvolvido pelo Instituto de Física Atmosférica do Centro Aeroespacial Alemão (DLR), alertou que o impacto climático dos rastros de aviões poderá triplicar até 2050, se nenhuma medida for tomada. De acordo com o estudo, em condições adequadas, esses rastros permanecem por longo tempo no céu e, assim, "prendem" o calor dentro da atmosfera da Terra.
A união de três empresas, a Google Research, a American Airlines e a Breakthrough Energy, resultou em um projeto que avaliou que os rastros dos aviões podem ser evitados com algumas decisões sobre a rota de voo. E isso não deve gerar um aumento de custos ou efeitos colaterais significativos.
Teoricamente, é possível evitar a formação desses rastros ao baixar a altitude dos voos em uma proporção relativamente pequena e evitando as partes mais úmidas da atmosfera, onde é mais provável que os rastros sejam criados. Então, as empresas uniram esforços para confirmar essa hipótese com o uso da tecnologia. "Você não pode voar sem queimar combustível, mas pode voar sem criar um rastro", disse Erica Brand, gerente sênior da Google Research.
O trabalho coletou imagens de satélite, dados meteorológicos e de rotas de voo, que foram usados em análises feitas com inteligência artificial (IA) para gerar mapas de previsão de rastros, a fim de evitar altitudes que provavelmente criariam rastros. Com isso, pilotos da American Airlines fizeram 70 voos para testar as rotas definidas. A Google Research disse em um comunicado que “(...) os pilotos foram capazes de reduzir os rastros em 54%. Esta é a primeira prova de que os voos comerciais podem evitar os rastros e, assim, reduzir seu impacto climático".
Elas descobriram também que os voos queimaram cerca de 2% a mais de combustível, por causa da mudança de altitude. Contudo, como apenas um pequeno número de voos em todo o mundo precisaria mudar de rota para evitar rastros, o impacto total disso seria potencialmente insignificante, um aumento de apenas 0,3% de combustível nos voos de uma companhia aérea.
As empresas enxergam isso como uma prevenção à geração de rastros com potencial de ser uma solução econômica e escalável para reduzir o impacto climático dos voos. Elas afirmam que as pesquisas seguirão no futuro, para automatizar a prevenção e direcionar os rastros de maior impacto. E esperam que o uso da IA torne a prevenção de rastros uma realidade nos próximos anos.