A formação de um sistema planetário é uma área de pesquisa bastante complexa dentro da Astronomia. A teoria mais aceita é do colapso de uma nuvem de gás e poeira que formaria a estrela central e os planetas. Porém, o processo que isso acontece é complicado e possui perguntas em aberto para os astrônomos.
Usando nosso sistema planetário como exemplo é possível responder algumas perguntas sobre formação planetária. No nosso caso, uma nuvem pode ter colapsado com maior parte da matéria formando o Sol enquanto uma fração formou os planetas, asteroides e satélites naturais que conhecemos. Mas olhar para outros sistemas planetários pode nos ajudar a obter mais respostas.
Foi isso que aconteceu com o sistema planetário LHS 3154 mas acabou trazendo mais perguntas do que respostas. O sistema planetário possui um conjunto de planeta e estrela que não era previsto pelo modelo atual de formação de planetas. Trabalho foi publicado na revista Science argumentando que o modelo terá que ser revisto.
Quando olhamos para nossa vizinhança no Universo, a primeira estrutura que vemos é o Sistema Solar. Nós orbitamos uma estrela chamada Sol na companhia de mais 7 planetas, além do nosso, que orbitam a mesma estrela. Esse conjunto é chamado de sistema planetário.
Nas últimas décadas, a busca por exoplanetas - planetas que não estão no Sistema Solar - se intensificou bastante. Atualmente, há 5500 exoplanetas encontrados e confirmados sendo que a maioria estão orbitando uma estrela central.
Exoplanetas podem estar vagando pela galáxia sozinhos. Esses exoplanetas que não estão em sistemas planetários são chamados de isolados ou vagantes. Mas encontrar exoplanetas é uma tarefa complicada e quando eles estão em sistemas planetários facilita na busca por eles.
Isso porque uma forma de encontrar exoplanetas é através de transientes. Um transiente acontece quando um planeta a na frente da estrela do seu sistema e o brilho da estrela diminui enquanto o planeta está ando. Ao analisar o brilho e a duração do transiente, é possível identificar o exoplaneta assim como seu tamanho e sua velocidade.
Dos 5500 exoplanetas encontrados, mais de 4000 estão em sistemas planetários, ou seja, orbitando uma estrela central. É estimado que cerca de ¼ desses sistemas possuem mais de um planeta no conjunto, como o Sistema Solar que possui 8 planetas.
O modelo mais aceito para a formação de um sistema planetário é o modelo da nuvem de gás e poeira. Nesse modelo, a nuvem colapsa devido a alguma instabilidade externa formando a estrela central com maior parte da matéria. A matéria que sobra se torna um disco protoplanetário que poderá formar planetas.
Nesse modelo, apenas uma fração da matéria sobra para formar planetas criando um limite para o tamanho desses planetas. É possível estimar uma razão entre a massa da estrela e a massa dos planetas. Apenas estrelas com massa do Sol e mais massivas que o Sol poderiam abrigar planetas do tamanho de Netuno e maiores.
Usando o instrumento Habitable Zone Planet Finder, um grupo de astrônomos de Princeton encontraram o exoplaneta LHS 3154b. Ele é um planeta muito semelhante à Netuno mas o que chama atenção é a estrela na qual ele orbita. A estrela é uma estrela do tipo M, nove vezes menor do que o Sol.
A diferença de massas chamou a atenção do grupo de pesquisadores visto que algo assim não era previsto pelo modelo de formação de planetas. O exoplaneta LHS 3154b seria grande demais para orbitar uma estrela tão pequena visto que o disco protoplanetário não deveria ter massa o suficiente para formar planetas gigantes.
No artigo publicado na Science, o grupo de Princeton e da Penn State argumenta que a descoberta dessa estrela desafia o modelo atual de formação de planetas. Além disso, outras propostas como a instabilidade gravitacional que serve como uma opção para explicar também falha em descrever esse sistema.
Novos estudos e observações terão que ser feitas para tentar explicar o processo de formação de sistemas como esse. Uma possibilidade é que essa nova pergunta em aberto possa resolver as questões em aberto que há no modelo atual.
Não era esperado que estrelas tão pequenas pudessem abrigar planetas grandes. Isso é um novo salto na Astronomia já que estrelas do tipo M são as mais comuns na galáxia. Entender como é a zona habitável em torno dessas estrelas pode nos responder se é possível a existência de vida em torno delas.
Se for possível, temos agora uma nova porta aberta na busca pela vida no Universo. A quantidade de estrelas aumentou consideravelmente. São muitas estrelas do tipo M que estão por aí que poderiam abrigar planetas gigantes e quem sabe a existência de vida.