Nos últimos tempos, assistimos a uma multiplicação de avistamentos de trombas d'água e tornados nas regiões costeiras do Mediterrâneo, em parte devido às novas tecnologias e às redes sociais atuais, que tornam estes fenômenos cada vez mais visíveis, em comparação com algumas décadas atrás. Fora de tudo isso, nos últimos anos, especialmente no Mediterrâneo, há uma tendência de aumento desses fenômenos meteorológicos extremos, em comparação com a média climatológica das últimas décadas.
Enquanto isso, deve ser especificado que trombas d'água e tornados são exatamente a mesma coisa. Por convenção, mesmo uma tromba muito banal pode ser definida como um tornado, como explica a extensa literatura científica. A única diferença real entre eles está na tempestade que o gerou. No interior das células da tempestade, formam-se tornados que apresentam, em seu interior, um movimento de vórtice, induzido pela presença de uma pequena pressão baixa no interior do cúmulonimbus, denominada "mesociclone".
Essas tempestades, dotadas de um movimento giratório interno, são chamadas de "supercélulas" e representam o tipo de tempestade mais violenta encontrada na natureza.
Para responder a esta questão tão complexa, é necessário recorrer ao método científico, valendo-se assim das leis da termodinâmica, representadas nos modelos meteorológicos, ao descrever as trocas de vapor de água e os fluxos de energia e calor entre o mar e a atmosfera. Nesse caso, a termodinâmica nos diz que para o desenvolvimento desses eventos muito localizados, como um tornado, um parâmetro muito importante é a temperatura da superfície do mar.
Isso ocorre porque uma superfície marítima mais quente fornece mais energia para um tornado, tornando-o também particularmente mais violento. Enquanto esses tornados permanecerem no mar ou atingirem áreas não densamente povoadas, o problema não surge. Porém, quando esses eventos atingem o solo, ando por centros habitados, cidades ou grandes centros industriais, encontramos danos muito graves e, infelizmente, também tragédias.
Artigo científico recente, publicado na revista internacional Scientific Reports, isso explica exatamente por que um mar mais quente, do que a média climatológica, pode estimular esses fenômenos. Neste artigo científico, os autores tomam como exemplo o tornado que atingiu a zona portuária de Taranto, na Itália e a fábrica da ILVA no dia 28 de novembro de 2012, causando uma morte (um operário) e danos de uns bons 60 milhões de euros.
#SevereWeather #Tornado na #Itália
— Meteored | Tempo.com (@MeteoredBR) September 21, 2021
Ocorreu na província de #Modena no domingo 19 na aldeia #FossoliDiCarpi. Também destruiu aviões e um hangar no Aeroporto de #Fossoli. pic.twitter.com/9Yg1anWR19
Trata-se de um tornado de intensidade muito semelhante ao observado nos últimos dias na zona de Modica, no sudeste da Sicília. Durante aquele tornado, a temperatura do Mar Jônico estava cerca de + 1°C acima da média climatológica do período (entre outras coisas, uma média muito recente, porque se refere às duas décadas de 1985-2005, e portanto relacionada com período em que o aquecimento global já está avançado).
Usando os dados da temperatura do mar, aplicaram um modelo meteorológico de alta resolução (cerca de 1 km de largura da grade), que provou ser capaz de reproduzir corretamente a trajetória da "supercélula", da qual nasceu o tornado Taranto.
Os mesmos autores realizaram outra simulação exatamente com o mesmo modelo, mas tomando como referência as temperaturas do mar com valores próximos à média climatológica do período. Esta última simulação demonstrou como, com uma temperatura do mar de apenas -1°C (então em média), a famosa "supercélula" não teria se formado e, portanto, o tornado não teria se desenvolvido. Por outro lado, ao aumentar a temperatura em + 1°C, o tornado teria sido ainda mais intenso.
O estudo, conduzido por ilustres autores como Mario Marcello Miglietta, Jordi Mazon, Vincenzo Motola e Antonello Pasini, destacou como o Mediterrâneo, tornando-se cada vez mais quente, está cada vez mais acostumado a esse tipo de fenômenos violentos do que antes tempos de retorno de dez anos, se não mesmo seculares. Sua intensidade tende a aumentar mais rapidamente à medida que um determinado valor de temperatura é ultraado, com repercussões inevitáveis em nossos territórios.