Medellín, a segunda maior cidade da Colômbia depois de Bogotá, é frequentemente apelidada de “cidade da eterna primavera”, devido ao clima ameno que ajuda a atrair turistas durante todo o ano.
A crescente urbanização e as más decisões tomadas sobre o seu desenvolvimento nas últimas décadas fizeram com que a metrópole ficasse exposta ao chamado 'efeito ilha de calor', em que edifícios, ruas e avenidas absorvem e retêm calor.
A implementação do programa “corredores verdes”, conectando estradas verdes, jardins verticais, arroios , parques e colinas, melhorou substancialmente a qualidade do ar e ajudou a reduzir as temperaturas em 2°C na cidade, segundo um artigo da BBC Future.
O sistema é composto por mais de 30 corredores verdes e cerca de 124 parques interligados por meio de plantações. Inicialmente, o projeto envolveu o plantio de cerca de 120 mil plantas e 12.500 árvores em estradas e parques. Em seguida, propôs cultivar mais 2,5 milhões de plantas menores e 880 mil árvores em toda a cidade até 2021.
A ideia era conectar os espaços verdes da cidade por meio de avenidas e ruas repletas de árvores e sombra. O investimento inicial para a execução do projecto foi de 16,3 milhões de dólares e estima-se que a manutenção anual custe cerca de 625 mil dólares em 2022, segundo o governo local.
O projeto deu a volta ao mundo devido aos resultados surpreendentes no resfriamento da cidade. Além de reduzir o calor, os especialistas dizem que ajudou a melhorar a qualidade do ar e trouxe a vida selvagem de volta à cidade.
Segundo informou a Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura de Medellín em seu site oficial, os “corredores e paredes verdes permitem a regulação da temperatura, a absorção de poeiras e poluentes, o isolamento do ruído, bem como a captura de dióxido de carbono e outras partículas suspensas no ar. Com tudo isso, gera-se oxigênio limpo e aumenta a biodiversidade”.
O site oficial indica ainda que o projeto Corredores Verdes recebeu dois prêmios a nível internacional: Ashden na categoria “Award for cooling by Nature” (Prêmio para resfriamento por natureza), e C40 Bloomberg Philanthropies na categoria “O futuro resiliente que queremos”.
"Em 2015 e 2016 atingimos o pico da poluição atmosférica", afirma Paula Palacio em declarações à BBC Future, que na época era Secretária de Infraestrutura de Medellín. Palacio lembra que havia uma pressão pública crescente para que fossem tomadas medidas mais sistemáticas contra a poluição.
Um estudo de 2020 da Universidade de Antioquia em Medellín concluiu que 971 mortes prematuras foram causadas pela poluição do ar na região do Vale do Aburrá em 2016.
O apoio da população local de Medellín foi crucial para o sucesso do projeto dos corredores verdes, segundo Lina Rendón, subsecretária de recursos renováveis da prefeitura local.
Um dos motivos, segundo ela, é o orçamento participativo municipal, um conjunto de recursos que permite à população local escolher as iniciativas que deseja que sejam financiadas. Desta forma, nos últimos anos a população tem escolhido muitas iniciativas verdes para a cidade, indica a BBC Future.
O governo local mediu a temperatura em alguns locais do centro da cidade antes e depois do projeto, explica Palacio, e descobriu que algumas áreas sofreram uma queda média de temperatura de até 2°C após a implementação do corredor.
Além disso, o monitoramento local da vida selvagem detectou pássaros, lagartos, sapos e morcegos que agora vivem no corredor, alguns dos quais não eram vistos na cidade há anos, segundo autoridades locais.
Atualmente, um dos os mais ambiciosos para transformar Medellín numa cidade verde são os planos do governo local de fechar o aeroporto central e transformá-lo num parque, desviando os seus voos para outros aeroportos próximos. No entanto, o projeto foi até agora bloqueado por um conselho municipal, afirma a BBC Future.
Os debates sobre como transformar Medellín numa cidade ainda mais verde e resiliente ao clima continuarão nos próximos anos.