A safra verão 23/24 de soja tem sido duramente afetada pelas condições típicas de El Niño como a redução das chuvas e o aumento do calor. Muitos produtores já registraram perdas expressivas em suas lavouras, foram milhares de hectares mortos e outros milhares replantados, o que aumentou os custos da safra e diminuiu o ganho do produtor em cima de uma produtividade bem abaixo do esperado, mesmo em um ano de irregularidade climática.
Como a soja vem sentindo muito os efeitos do aquecimento anômalo das águas superficiais do Pacífico Equatorial, muitos produtores estão deixando a safra de soja completamente de lado, abandonando suas lavouras que já não tem mais salvação, e partindo para o preparo do plantio do algodão também da nova safra de 2024.
Em teoria, o algodão possui um melhor potencial produtivo frente à falta de chuva e temperaturas excessivamente elevadas. Aliás, a SLC Agrícola atualizou sua projeção da safra verão 23/24 levando em consideração as temperaturas acima do normal provocadas pelo El Niño que foram registradas no cerrado. O calor excessivo fez com que a umidade do solo diminuísse ainda mais rápido, já que as chuvas irregulares e com baixo volume foram insuficientes para realizar uma manutenção hídrica para o desenvolvimento das plantas.
Temperaturas elevadas demais e chuvas abaixo do normal foram o ápice da pouca produção de soja no oeste de Mato Grosso, uma das áreas mais afetadas pelo El Niño neste ano. O clima seco provocou atrasos no plantio, morte de plantas, e claro, os prejuízos milionários. O último relatório da CONAB do dia 04 de dezembro apontava uma área de 98,7% de soja semeada em Mato Grosso, ou seja, reta final, mesmo que atrasada comparado ao mesmo período do ano ado. O boletim deve ser atualizado ainda nesta segunda-feira (11) à noite como de costume.
Com as perdas de produtividade e morte das plantas, a SLC Agrícola se viu praticamente obrigada a descontinuar cerca de 16 mil hectares de soja para transferir essa área para o plantio unicamente de algodão, uma cultura que pode ser a “salvação do prejuízo da safra 23/24”.
Além da área que será movida para o algodão, os prejuízos foram ainda maiores na safra de soja, pois cerca de 19 mil hectares aram pelo replantio da oleaginosa, o que traz reflexos para o milho safrinha que terá uma redução em média de 7,7 mil hectares em relação ao que foi projetado inicialmente, é um efeito cascata.
Ivo Brum, diretor financeiro e de relações com investidores da SLC Agrícola, falou sobre os impactos do fenômeno El Niño com o renomado Money Times. Em sua fala, Brum relata que “o fenômeno climático se mostrou bastante forte nesses primeiros três meses, com uma redução de chuvas, o que resultou um atraso no plantio, algumas lavouras não se desenvolveram adequadamente, o que nos esforçou a replantar algumas áreas. A ideia era plantar algodão segunda safra, plantando primeiro a soja depois a pluma, mas devido aos problemas optamos por plantar algodão primeira safra”.
Ainda segundo o diretor, não é possível prever o clima além de 2-3 semanas à frente, o que mantém as incertezas do que vem por aí. Para dezembro, existe uma expectativa de retorno da normalidade das chuvas, enquanto que para janeiro e fevereiro é preciso aguardar, pois mesmo com as chuvas nos dois primeiros meses do que ano que vem, não é possível afirmar ou garantir nada para as lavouras.
Para os próximos dias é fato que existe possibilidade para pancadas de chuva sobre o Brasil Central, em especial sobre o estado de Mato Grosso devido ao avanço de instabilidades, e a combinação entre calor e umidade. No entanto, as pancadas dos próximos cinco dias continuarão irregulares, rápidas e mal distribuídas quanto ao volume total previsto. O noroeste mato-grossense pode registrar um maior volume de chuva, mas não será suficiente para aumentar a disposição hídrica no solo, pois o calor intenso ainda será prejudicial.
Para as próximas semanas de dezembro, a projeção é de aumento das chuvas sobre o centro-norte do país devido ao avanço de uma frente fria e a formação de um corredor de umidade. Especialmente no período entre 22 e 26 de dezembro, a tendência é que o corredor se forme levando chuvas expressivas desde o Amazonas até o Espírito Santo, ando de forma abrangente pelo estado de Mato Grosso.
O volume de chuva poucos dias antes do Natal pode ultraar a casa dos 50 milímetros em diferentes áreas do estado mato-grossense, o que inclui o oeste que tem sido mais afetado pelas secas e pelo forte calor. A chuva volumosa ainda será insuficiente para reverter por completo o déficit hídrico e estresse térmico nas plantas, mas já será um alívio frente às perdas de produtividade que não param de crescer.