A noite de terça-feira (12) foi marcada pela segunda maior "acqua alta" da história de Veneza. Mais de 80% da cidade está inundada e o prefeito declarou estado de emergência. Apesar da cidade estar preparada para inundações regulares, eventos extremos como esse ultraam a capacidade de Veneza e colocam em risco infraestrutura e serviços básicos. Muito se discute sobre as influências das mudanças climáticas no aumento na frequência dessas marés excepcionais.
Por volta da meia-noite de terça, a altura da elevação do mar em Veneza era de 1,87 m, a maior já registrada após o recorde de 1,94 m, em 4 de novembro de 1966. Os registros do nível do mar na cidade são feitos deste 1923. A praça de São Marcos, onde fica a Basílica de São Marcos, fica apenas 80 cm abaixo do nível médio do mar, sendo uma das regiões mais vulneráveis da cidade. A Basílica já apresenta sua estrutura comprometida - das 6 inundações que já sofreu em 1200 anos, 4 ocorreram nos últimos 20 anos.
#Nature Acqua Alta em #Veneza.
Tempo.com (@OtempoBrasil) November 13, 2019
Nas últimas horas, a maré atingiu 187cm, sendo a segunda mais intensa desde que há registros pic.twitter.com/0QgYnKrZ4v
O Prefeito de Veneza, Luigi Brugnaro, disse que esta inundação deixará um dano permanente na cidade, um patrimônios históricos da humanidade, e afirma que esse eventos são efeitos das mudanças climáticas. Brugnaro fala que "o preço que estamos pagando é alto" e pede para que a população divulgue fotos da situação crítica da cidade, fazendo um apelo para os governantes.
A atual inundação foi causada pela combinação das marés altas, típicas de primavera, e uma maré meteorológica, forçada por ventos fortes, conhecidos na região como sirocco. O sirocco é um vento de sudoeste sobre o Mar Adriático, normalmente associado à um sistema de baixa pressão, no caso o Ciclone Extratropical Vitória. Assim como ano ado, a ocorrência de um ciclone, como intenso vento associado, junto com uma maré alta, normalmente mais significativas na primavera, resultaram em uma "acqua alta" extrema.
A new look at #CycloneVictoria, estimated to be at 80 km/h, with a pressure of 989 millibars. This is a powerful, extratropical storm that absorbed the remnants of #MedicaneTrudy. #italy #sicily #malta #tunisia #weather #storm #cyclone #detlef #mediterranean #europe pic.twitter.com/SFniIb2RBL
Mediterranean Cyclone Centre (@Medicane_Centre) November 12, 2019
Apesar de ser complicado atribuir eventos singulares às mudanças climáticas, o aumento na frequência dessas marés extremas deve ser motivo de atenção. Das 10 piores "acqua alta" desde o início dos registros em 1923, 5 ocorreram nos últimos 20 anos. Fora do máximo registrado em 1966, o maior nível registrado havia sido 1,56 m em novembro de 2018, a mesma medida de 2008.
Os últimos relatórios do IPCC e diversos estudos apontam que o aumento do nível do mar está associado às mudanças climáticas. Além disso, alguns estudos mostram que Veneza está "afundando", o que a longo prazo, a deixa ainda mais vulnerável às variações do nível do mar. Também, a situação atmosférica que causou a maré meteorológica no Mar Adriático foi forçada por um padrão ondulatório do jato de altos níveis no Hemisfério Norte, que contribuiu para o desenvolvimento do sistema de baixa pressão no Mediterrâneo.
Estudos mostram que o padrão ondulatório do jato está ficando mais acentuado em função as mudanças climáticas, o que, aliado às marés altas de primavera, podem aumentar a ocorrência de "acqua alta" em Veneza nessa época do ano.